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'Caminho sem volta', 'pavor', 'nova arte': personagens do carnaval avaliam jogo de luzes da Sapucaí

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'Caminho sem volta', 'pavor', 'nova arte': personagens do carnaval avaliam jogo de luzes da Sapucaí

Nomes como Leandro Vieira, carnavalesco da Imperatriz, Beth Bejani, coreografa da Grande Rio, e Alan Barbosa, projetista do Salgueiro, comentaram sobre a ferramenta inovadora que causou impacto nos desfiles desse ano. Luz de onça acende na comissão de frente da Grande Rio Luz na passarela! Nada foi mais comentado no carnaval do Rio de Janeiro em 2024 do que a nova iluminação da Marquês de Sapucaí. E como tudo que é novidade, o jogo de luzes e os apagões na avenida também viraram polêmicas. Entre erros e acertos, a ferramenta inovadora está sendo debatida em todas as escolas de samba. Brilhantes apresentações cenográficas marcaram o carnaval desse ano, como a comissão de frente e as pulseiras luminosas do desfile da Grande Rio. Outro ponto alto da iluminação foi visto na Viradouro, que trouxe novos elementos que refletiam e provocavam diferentes efeitos em suas alegorias. Contudo, o bom uso das luzes não é unanimidade. Na Vila Isabel, por exemplo, o casal de mestre-sala e porta-bandeira fez parte de sua apresentação no escuro, com roupas acesas por LEDs e lasers. O efeito acabou prejudicando a avaliação de alguns jurados. "A pouca iluminação e os raios que saiam da indumentária atrapalharam a visualização no início", justificou o jurado Fernando Bersot, após dar 9,8 para o casal da Vila Isabel. Justificativa Fernando Bersot para o casal de mestre-sala e porta-bandeira da Vila Isabel Reprodução Para entender como a nova iluminação influenciou no trabalho dos carnavalescos, coreógrafos e projetistas das escolas de samba do Rio o g1 ouviu quem de fato faz o espetáculo acontecer. Entre críticas e elogios, todos acreditam que o carnaval entrou em um caminho sem volta e que o bom uso da iluminação cénica vai depender da criatividade e das prioridades de cada artista. Inúmeras possibilidades Com 510 refletores ao longo da avenida, além de luzes coloridas e de movimento, a Sapucaí praticamente entregou um número infinito de possibilidades para os carnavalescos iluminarem seu enredo. "Eu acho que foi um dos pontos altos nos desfiles desse ano porque, antes, a iluminação era muito branca e como o chão da Sapucaí também é branco, a iluminação tirava alguns dos efeitos que a gente pensava", comentou o projetista do Salgueiro, Alan Barbosa. "A iluminação também é um tipo de arte e essa nova iluminação favorece muito o trabalho do carnavalesco. Ela te dá muitas possibilidades", completou. Salgueiro desfila na Sapucaí REUTERS/Ricardo Moraes Praticamente todas as escolas montaram seu carnaval pensando em como a iluminação iria atuar na avenida. "O uso de toda iluminação da avenida foi fundamental. Poder apagar a arquibancada, manter a nossa alegoria iluminada, mesmo que em um tom mais baixo, com o azul da onça celeste, fez todo o sentido pra gente", comentou a coreógrafa da comissão de frente da Grande Rio, Beth Bejani. "Eu acho que é um caminho sem volta porque soma muito ao espetáculo, a abertura das escolas e todo o desfile. Tem que ser coerente ao enredo e também coerente com a forma que você utiliza", ponderou a coreógrafa. A Grande Rio talvez tenha sido a escola que mais utilizou os efeitos cenográficos da nova iluminação. A comissão de frente comandada pela dupla Beth e Hélio Bejani, brilhou com seus bailarinos de verde florescente, os morcegos de asas piscantes e sua onça celeste gigante. "A gente aproveitou tudo, o máximo que a gente pode. E sem dúvida ficou um espetáculo grandioso, muito bonito e ficamos muito satisfeitos com o resultado final", completou Beth. A coreógrafa lembrou que toda apresentação da comissão de frente esse ano foi pensada para a nova iluminação do Sambódromo. Segundo Beth, o enredo "Nosso destino é ser onça" ajudou nessa construção. "Além da gente representar o início do enredo, que era um nada, onde o velho onça nascia do bater das asas dos morcegos, era tudo muito escuro. (...) Naquele momento, a gente decidiu que teria alguns elementos, como os nossos quatro totens, com luz negra para iluminar os bailarinos. No momento que ficasse tudo mais escuro na avenida, esses totens acederiam para iluminar o figurino. E eles viriam com figurinos florescentes. De cara, a gente já desenhou o projeto assim, com o uso da iluminação da avenida", relembrou. "Junto, veio o nosso elemento da onça celeste, que a gente queria muito trazer e formar a própria constelação, como diz o nosso samba: 'Devora e se veste de constelação'", disse Beth. Constelação na arquibancada Foi nesse momento do desfile que a Grande Rio trouxe mais um novo tipo de interação com o público, aproveitando as ferramentas de iluminação. As 55 mil pulseiras luminosas distribuídas para a plateia fizeram da avenida uma grande constelação, bem como dizia o samba da escola de Duque de Caxias. Grande Rio distribui pulseirinhas para público participar da iluminação do desfile "Foi uma aposta pra trazer o público para dentro do espetáculo, brilhando com a gente. Acho que foi um golaço da Grande Rio", pontuou. "A gente conseguiu deixar a nossa onça celeste um pouco iluminada, com azul, e apagar toda a arquibancada. Nesse momento surgiram as pulseirinhas. Uma ideia que surgiu desde o início, de colocá-las para interagir com o público e formar essa constelação", celebrou a coreógrafa. Iluminação de show Se para alguns especialistas a nova iluminação foi a grande atração desse ano, um dos mais badalados carnavalescos da nova geração está convicto do contrário. Na opinião de Leandro Viera, carnavalesco da Imperatriz, tricampeão do carnaval, uma vez com a escola de Ramos e duas vezes com a Mangueira, a nova iluminação não favorece as escolas de samba e diminui o valor do passista. "Eu tenho pavor da nova iluminação da Marques de Sapucaí. A nova iluminação prioriza a cenografia. Ela não prioriza o sambista, o componente de ala. É uma questão de inteligência. Se meu trabalho brilha mais na questão da fantasia, eu não posso apagar a luz pra comissão de frente se apresentar e colocar à sombra a performance do sambista que vai no chão. Não posso. Não entra na minha cabeça", explicou Vieira. Imperatriz Leopoldinense desfila na Sapucaí Reuters/Ricardo Moraes Em entrevista ao podcast SambaPod, gravada em novembro de 2023, Leandro Vieira comparou a nova iluminação da Sapucaí com o jogo de luz utilizado no show do DJ Alok, famoso por seu espetáculo visual sincronizado com o som. "Eu acho que essa iluminação para o show talvez seja boa. Para o desfile das escolas de samba não é", cravou Vieira. "Eu não acredito que a iluminação que conhecem, a iluminação p*ca do Alok, da Praia de Copacabana, serve para o desfile das escolas de samba. O cara que pensa que a iluminação do Alok, que é foda pra cara***, vai servir para o desfile das escolas de samba, ele é um iluminador ruim e sem a menor aptidão para entender o que é uma escola de samba", argumentou Leandro Vieira. Apresentação de casal de mestre-sala e porta-bandeira tem jogo de luzes na Sapucaí O carnavalesco da Imperatriz contou que teve uma reunião com os iluminadores do Sambódromo antes do carnaval de 2023 para falar sobre as novas possibilidades de iluminação da avenida. Nesse momento, Leandro disse que não usaria nenhum dos efeitos. No ano passado a Saucaí já contava com a nova iluminação, como um período de testes. "Eu fui lá ano passado, e me dou super bem com a galera da iluminação da Sapucaí, mas quando me perguntaram qual a iluminação que eu queria eu falei: 'Quando a Imperatriz entrar, acende a luz'. Essa foi a iluminação da Imperatriz em 2023", comentou. Para o artista, os equipamentos instalados na avenida do samba não conseguem focar no integrante da escola e acabam escondendo detalhes importantes do enredo. "A cor é um dado fundamental para a contação de uma história. Então você pega aquele trabalho todo de tecido, que tem as suas particularidades, tecidos translúcidos, opacos, brilhantes, e você joga uma luz em cima, de qualquer maneira. Essa luz que tá lá tá longe, não adianta, não foca no componente, fica escuro, dá sombra", explicou. "Pra mim, a melhor luz ainda é a luz geral (normal). Que na verdade é a segunda melhor luz. A melhor luz para os desfiles é a luz do sol. Essa não tem igual". A Comissão de frente da Imperatriz criou efeito especial com 'cigana voando' e aproveitou o jogo de luzes da Sapucaé em 2024 Reprodução Na entrevista, Vieira ainda fez questão de afirmar que ele não é dono da verdade e que cada carnavalesco tem suas preferências na hora de contar uma história. Para ele, outros artistas vão achar a nova iluminação uma ferramenta valiosa. Contudo, Leandro reforçou que os 3 mil componentes de cada escola não podem ser menosprezados. "Para as alegorias, fica bonito pra caramba. Pra alegoria ajuda, mas não é um desfile que é marcado pela condição cenográfica. E é o seguinte: São sete cenografias (carros alegóricos) para 3 mil pessoas. Ou seja, a prioridade do espetáculo está em 3 mil pessoas que passam pelo chão", disse Leandro. Falta de ensaio é um problema Uma reclamação comum entre todos os entrevistados pelo g1 é em relação a dificuldade para ensaiar os efeitos da nova iluminação no Sambódromo. Apesar das escolas terem direito de ensaiar cada jogo de luz com a equipe da Sapucaí, elas evitam revelar seus segredos no ensaio técnico oficial. A coreógrafa da Grande Rio contou que teve duas madrugadas de testes, fora o ensaio técnico e que mesmo assim não deu pra testar todos os efeitos. "Foram muito importantes os testes que a gente teve. O primeiro teste de luz foi de 23h até 5h da manhã, com a luz da avenida. Nesse dia, a gente já levou tecidos, fez testes, viu se tava tudo funcionando como a gente tinha pensado. Fizemos muitos ajustes, mas saímos de lá ainda precisando testar mais coisas", explicou Beth. Em 2023, as escolas impressionaram com a nova iluminação da Sapucaí Mesmo com as dificuldades impostas pela nova tecnologia, a maioria dos envolvidos acredita que o próximo passo será capacitar e aprimorar o conhecimento técnico nas escolas. A ideia é entender como e onde utilizar o novo sistema de iluminação. "Nós temos muito a melhorar ainda. Eu falo sobre o todas as escolas. É uma coisa muito nova e por isso os erros vão acontecer. Foi muito válido que eles tenham acontecido esse ano. Algumas escolas erraram, mas nada que tenha comprometido a escola. E é claro, como tudo que é novo pode melhorar sim", comentou Alan Barbosa. "O carnaval sempre se reinventa até porque uma cultura se não se reinventar ela acaba morrendo. Por isso as escolas têm que se reinventar sempre. A questão da iluminação faz parte disso. Estamos em evolução", completou o representante do Salgueiro. "Eu acho que agora depende mais das escolas conseguirem encontrar esse equilíbrio e fazerem esse bom uso da iluminação. A iluminação lá ta completa. A gente é prova disso. Utilizamos tudo que era possível e que a gente tinha direito. (...) Foi muito positivo, até superou as nossas expectativas. Cabe o bom senso no uso", finalizou Beth Bejani.

Publicada por: RBSYS

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